quarta-feira, 29 de junho de 2011

Julio Cortázar

O TEMPO DESMONTADO

O velho relojoeiro, com mais de cinquenta anos de experiência no ramo de conserto de relógios, ao desmontar um relógio deixado na sua loja por um cliente desconhecido, percebeu que não conseguia mais montá-lo.

Ao olhar para os outros relógios, inclusive os de parede, percebeu que todos estavam desmontados. Sem entender o que havia acontecido, tentou montar as dezenas de relógios que estavam na sua relojoaria, mas a tentativa resultou inútil.

Não mais comia, não mais dormia, não voltou mais para a casa onde morava sozinho, ficava dias e noites tentando montar os relógios desmontados.
Não sentia mais fome, sono, cansaço. Chegou um momento que teve uma intuição:-Por um enigma totalmente inexplicável, e impossível de decifrar, ele, o velho relojoeiro, havia desmontado o tempo.

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